sexta-feira, 6 de março de 2015

The Order: 1886 – Vale a pena?



The Order: 1886 chegou ao PlayStation 4 carregando o fardo de ser um dos principais exclusivos de 2015. O título foi desenvolvido pela Ready at Dawn em parceria com a Santa Mônica Studios e desde sua primeira aparição gerou enormes expectativas pelas ambiciosas promessas. Será que o estúdio atingiu os objetivos? O game realmente vale a pena? Isso você confere agora em nossa análise.
Desde o princípio, a Ready at Dawn fez questão de ressaltar que o game seria uma experiência cinematográfica, inovadora e fortemente ligada a um enredo rico em detalhes. A partir disso, o desenvolvimento da obra foi norteado por estes princípios e isto pode ser observado já pelo formato da tela. O game tenta se aproximar das películas de cinema inserindo bordas superiores e inferiores e, no início da jogatina, isso parece um pouco estranho, mas os olhos rapidamente se acostumam à novidade.
Diálogos, longas cut-scenes e um visual estupendo também servem como amostra para reforçar que o estúdio foi fiel aos seus princípios.
Acredito que você, caro leitor, abriu esta análise com um pouco de receio e certamente influênciado pelas pesadas críticas que o título recebeu ao longo das últimas semanas. Se este for o caso, pedimos que você abra as portas de sua mente e venha conosco abordar e avaliar com um pouco mais de frieza a obra.

Enredo

Prefácio

Durante os séculos XVII e XVIII, alguns humanos começaram a sofrer um tipo de mutação. Muitos foram, de alguma maneira, atingidos por este surto e com isso iniciou-se uma guerra entre as pessoas saudáveis e os modificados – chamados de mestiços.
Os humanos eram liderados por ninguém menos que o Rei Arthur em companhia dos cavaleiros da Távola Redonda. Arthur por muito tempo se viu em desvantagem de força, apesar da superioridade numérica. A guerra estava sendo perdida quando o Rei encontrou um misterioso líquido que continha poderes regenerativos. Chamado de Blackwater, o elixir possibilitou que a Ordem equilibrasse os combates e conquistasse algumas vitórias.

A era Vitoriana

O game se passa no mesmo período da Revolução Industrial (Séc. XIX), no entanto os avanços econômicos e tecnológicos de The Order: 1886 são muito diferentes da história que conhecemos. Máquinas voadores, tecnologias futuristas, comunicação sem fios e diversos outros recursos estarão fortemente presentes no título.
As engenhocas e equipamentos são de responsabilidade de Nikola Tesla, um importante inventor da época. Tesla, a princípio, contribui cientifica e tecnologicamente com seus conhecimentos em engenharia, mas com o desenrolar da trama o personagem recebe um papel de destaque.
O título explora uma Londres alternativa, muito ao estilo Steampunk. Um mundo composto de máquinas, robôs e muita ficção científica. Filmes e animes como: Van Helsing, A Liga Extraordinária e Full Metal Alchemist já exploraram esta temática.
Neste ambiente, a Ordem, uma entidade militar de elite diretamente descendente dos cavaleiros de Arthur ainda combate os mestiços. Contudo, os cavaleiros devem cuidar de outros assuntos também complexos.
O game coloca o jogador no papel de Sir Gallahad, um dos mais respeitados cavaleiros da Ordem. Gallahad é acompanhado por Sir Percival, Lady Igraine e o Marquês de Lafayette. Todos eles são pessoas que tentam zelar pela soberania e integridade do Reino, entretanto uma revolução ameaça dissolver a sociedade e uma guerra civil deve ser evitada a qualquer a custo. Além disso, os mutantes são uma ameaça constante.
The Order 1886
A narrativa se mostra como uma premissa muito interessante e é neste ponto que o game apresenta sua maior controversa. Durante o gameplay, vários são os momentos onde o jogador assiste a vários minutos de cut-scenesquicktime events, diálogos tediosos, vagos e pouco explicativos. Existem capítulos inteiros onde nada acontece, forçando o player a somente assistir sem nenhuma ação ou interação. Este tipo de abordagem é muito frustrante para aqueles que esperavam uma experiência um pouco mais interativa.
Apesar da história nos colocar em um ambiente extremamente interessante, a Ready at Down cuidou para que o jogador, na maior parte do jogo, fosse um mero expectador. O sistema de exploração também contribui de forma significativa para o sentimento de impotência do jogador. Os cenários, apesar de belos, não tem muitas possibilidades de exploração. As opções resumem-se apenas a analisar fotos e coletar arquivos de áudio, nada além disso.
The Order: 1886 é um game 100% linear. Não possui caminhos alternativos, escolhas e a tomada de decisões está longe dos domínios do jogador. Como exposto, a trama se desenrola de forma lenta, quase arrastada, o que contribui para afastar os mais sedentos por ação.

Visual

The Order: 1886 se destaca em seu visual. Cenários, personagens, armas, ambientes etc são incrivelmente detalhados. Podemos afirmar, sem medo de errar, que trata-se de um dos jogos mais bonitos de todos os tempos.
Não são raras as vezes onde ficamos simplesmente contemplando o espetáculo visual. Os personagens principais são muito fiéis aos seres humanos reais. A Ready at Dawn realmente produziu um verdadeiro jogo de nova geração.
The Order 1886
A Ordem é aquele jogo que você coloca como exibição em sua casa para impressionar as pessoas e mostrar a elas o quanto os video games evoluíram nos últimos anos.
Outro aspecto importante é qualidade técnica do título. Não existe delay de renderização, sendo que é praticamente impossível diferenciar uma cena de computação gráfica com um gameplay. Além disso, o game é perfeito do ponto de vista técnico. Não encontramos bugs, nem personagens atravessando paredes, falhas, ou queda na taxa de quadros por segundo. Em uma geração marcada por problemas, a Ready at Dawn mostrou que é possível criar um jogo sem os gigantescos pacotes de correções.

Jogabilidade

The Order é um jogo de tiro em terceira pessoa simples. Os comandos respondem de forma excelente e sem transtornos. A curva de aprendizado é bastante curta e não exige muitas habilidades do jogador. O sistema de cobertura também é eficiente e atende bem as necessidades.
Durante o gameplay é possível andar, andar em um passo mais acelerado e correr. Entretanto, o jogador não tem total controle sobre suas ações. Em determinados momentos só é possível andar, o que torna o passar do tempo bastante lento. Além disso, Gallahad também pode se pendurar, realizar saltos mas, assim como dito anteriormente, estes movimentos só estão disponíveis em partes específicas, onde o jogo obriga o jogador a realizá-los.
The Order 1886 Cover
Outro ponto de destaque são os quicktime events. Eles são partes constantes do jogo e fazem parte da experiência do enredo. Em determinados momentos o jogador deve apertar um botão, seja para finalizar um inimigo, completar uma ação ou para prosseguir adiante. Não existe nenhum problema técnico nestes momentos, todavia eles são muitos repetitivos e acabam por quebrar o clima do jogo.
Seguindo neste sentido, podemos dizer que o gameplay as vezes pode ser “esticado” mas, em alguns casos, o jogador não tem a sensação de “jogar” o game de fato.
Até as esperadas batalhas contras os lobisomens são inteiramente moldadas em “aperte um botão na hora certa”. Este fato acabou por ser o grande desapontamento da obra, uma vez que o próprio estúdio havia ressaltado que os combates com estes “seres” seria impressionante.
Apesar do ritmo mais cadenciado, em certas partes o game mostra-se bastante intenso com muitos tiroteios, explosões  e inimigos. São estes momentos que mostram o verdadeiro potencial do título. Mesmo que a variação de inimigos seja quase nula, é possível se divertir e experimentar uma boa variação de armas.

Som

Outro capricho da Ready at Dawn é a parte sonora do game. Durante a jogatina as músicas se fazem presente de forma magistral. Em partes mais aceleradas, a orquestra trata de propiciar todo um clima de tensão. Já nas partes mais tranquilas os passos e o caminhar dos personagens são ecoados pelos cenários criando a sensação de “exploração”.
A versão nacional do título é totalmente dublada para o PT-BR. De uma forma geral, o trabalho foi bem executado e as vozes combinam com os personagens. Contudo, a localização não sai ilesa de problemas. Em alguns momentos as vozes ficam totalmente dessincronizadas com as cenas mostradas na tela. Além disso, por vezes a tradução não faz muito sentido com aquilo que é visto na versão em inglês. Estes problemas não chegam a atrapalhar, mas podem irritar os mais exigentes.

Considerações Finais

Ao contrário do foi ventilado em alguns locais, The Order: 1886 não pode ser finalizado em menos de 5 horas. O tempo total de gameplay varia entre 7h a 9h de duração, mas no final das contas, o tempo de jogo não foi o grande problema do título. Podemos afirmar que a maneira como as ações se desenrolaram são os fatores que contribuíram para que o game fosse recebido de forma negativa pelo críticos. Todavia, devemos novamente refletir sobre a proposta inicial do estúdio.
Desde o início, a Ready at Dawn deixou claro que o game seria uma obra com viés cinematográfico e isso de fato foi cumprido. O game apresenta um enredo forte, carregado de cut-scenes e cheio de mistérios, mas esta escolha tem um custo: Após o fim do gameplay o jogador não encontra nenhum motivo para voltar a experimentar o título, uma vez que a exploração é limitada, não existe multiplayer e o enredo é linear. Fica aquele gostinho de “quero mais”.
The Order: 1886 certamente será transformado em uma franquia e este foi apenas o primeiro capítulo. Espera-se que a Ready at Dawn concentre esforços em criar um gameplay mais imersivo, dinâmico e variado. Qualidade técnica já foi provado que o estúdio tem de sobra, resta trabalhar melhor em outras áreas.

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